Este foi um estudo feito na
igreja Baptista da Horta sobre Teologia do trabalho. O que vou tentar
fazer é editar o texto para que possa ser toleravelmente lido e,
ocasionalmente, Hei-de ir publicando capítulo a capítulo.
A Bibliografia usada é pouca.
Para além da Bíblia, resume-se a dois outros livros: “Como
integrar fé e trabalho”, Tim Keller e “O Evangelho no trabalho”
Greg Gilbert e Sebastien Traeger”.
Este não é um documento
académico, por isso, não tenho preocupação de respeitar qualquer
tipo de regra para esse tipo de trabalho. No entanto, por uma questão
de seriedade, tentarei mencionar sempre que cito as fontes das quais
eu o faço.
A razão para ter feito este
estudo foi pastoral. Percebi que muitos dos nossos irmãos sinceros e
verdadeiramente comprometidos com o Senhor lutavam com este tema.
Muitos não sabiam como agir num meio laboral repleto de pessoas que
não conhecem o Senhor.
Será que devemos partir,
ativamente para falar do Evangelho, denunciar as injustiças? Será
que devemos ser “ultra espirituais” e levar a Bíblia para o
trabalho, ou oferecer folhetos todos os dias aos nossos colegas? Será
que este trabalho é algo em que deva investir? Será que trabalhar
com descrentes, a não ser para os salvar, tem alguma utilidade ou é
algum tipo de ministério? Será que trabalhar “na igreja” é
superior a trabalhar no meu emprego?
Estas eram algumas das
questões que ouvi e que tentei responder. Para muitos, o trabalho é
um autentico sacrifício. É difícil ser-se uma testemunha de Cristo
num ambiente em que a maioria odeia a Cristo.
No entanto, creio que, mesmo
não tendo conseguido responder a todas as questões, este estudo
serviu para cultivarmos uma visão teologicamente mais sã em relação
ao trabalho, e consequentemente, termos um relacionamento com a nossa
semana, diferente.
Sessão 1
O valor intrínseco do
trabalho
Estaremos a estudar, nestas
quatro semanas, a mente de Deus em relação ao trabalho. O que é
que Deus pensa, mas também como é que nós devemos pensar em
relação ao trabalho que temos.
Todos nós sabemos que existem
trabalhos mais agradáveis do que outros. Existem
trabalho de sonho. Não só pela descrição das funções que
englobam esse trabalho, mas porque em muitos casos, conseguimos
trabalhar na carreira que sempre sonhámos. Isso é privilégio nos
nossos dias.
No entanto, nem
todos temos a carreira com que sonhámos, nem todos fazemos o que
gostaríamos
de fazer
e em muitos casos o trabalho, por causa disso, é visto como apenas
uma forma de conseguir algum
sustento. Um mal menor,
a “nossa cruz”.
Este estudo não tem
a finalidade de eliminar as dificuldades que temos no trabalho. Há
dificuldades inerentes ao que fazemos que nunca mudarão. Há
relacionamentos com pessoas que nunca ficarão sanados, porque a cura
não depende de nós. No entanto, creio que se mudarmos a nossa
mente, pelo menos poderemos lidar com essas dificuldades de forma
diferente.
O segredo está em percebermos
de que forma Deus pensa em relação ao trabalho. Depois
de percebermos o propósito de Deus para o trabalho, os nossos
colegas vão continuar a ser difíceis, as tarefas enfadonhas, e os
problemas continuarão iguais, mas
a nossa visão mudará. Afinal de contas, só podemos mudar o que
pertence à nossa vida, e mesmo em relação a isso, só a Graça de
Deus nos pode valer.
O que nos propomos, então,
é que depois deste estudo possamos ter uma nova forma de olhar para
o nosso trabalho. A transformação tem de acontecer em nós, não
nas circunstâncias.
O trabalho não
é castigo da
queda
Génesis 2
É
sempre importante definir alguns termos para que possamos caminhar no
mesmo sentido quando falamos das coisas. Assim quando disser algo,
todos vão perceber, pelo menos, aproximadamente, o que estou a
tentar dizer.
O
que significa ministério?
Ministério é uma palavra que
vem do latim, e que significa servir. É certo que hoje quando
ouvimos essa palavra, pensamos no governo, com os seus ministros. A
nossa mente corre logo para uma compreensão nobre da palavra. Aqui
uso nobre significando algo
elevado, importante que não serve os outros, mas é servido.
Falamos também, no contexto
religioso dos “ministros da Palavra”. Que em muitos casos são
autenticas “super-estrelas”, com a sua agenda repleta de
palestras, recebendo “cashiers” elevados e com direitos de luxo
onde quer que vão.
O significado de ministro é o
oposto destes dois exemplos. Ministro significa servo, mais
especificamente, escravo.
Quando falamos em ministério
estamos a falar de serviço, qualquer tipo de serviço, não só o
pastoral. Se quisermos destacar o trabalho pastoral diremos
“ministério pastoral”.
Será que podemos fazer uma
diferenciação entre trabalho
cristão e
trabalho
secular?
A tese que vou tentar
demonstrar aqui é que não. Eu creio que Cristo vem salvar a vida
completa do homem. Creio que a conversão não é apenas uma
alteração de horário de fim-de-semana, nem uma mudança de
comportamento exterioro, é uma mudança de coração.
Ou seja, o cristão vive
completamente para a glória de Deus. Todos os dias, a toda a hora em
todo o trabalho. Evidentemente que ninguém consegue viver assim,
porque ainda lutamos com o nosso pecado e a nossa natureza, mas o
alvo é esse e a graça de Deus trabalha em nós para esse fim.
Isto quer dizer que sirvo a
Deus quer seja sapateiro, médico, professor, domestico ou pastor.
Não
estou a querer dizer que não hajam atividades mais importantes do
que outras ou mais centrais, como por exemplo pregar a Palavra de
Deus, ou dar testemunho do Evangelho. Estou a dizer que tudo o que o
cristão faz é serviço a Deus e deve ser feito para a Sua glória.
Que esferas têm?
Finalmente, é importante
esclarecer que, apesar de toda a obra que fazemos ser serviço a
Deus, a esfera da vida eclesiástica é central e influenciadora da
esfera do trabalho secular. Ou seja, a igreja é o instrumento
princpal que Deus usa para edificar os seus filhos ao crescimento
espiritual para que O possam servir nas outras esferas de trabalho e
que estão envolvidos.
No entanto, vou afirmar mutas
vezes que o nosso pecado é em desvalorizar a importância do
trabalho diário como não sendo “santo” e uma ênfase no
ativismo eclesiástico como sendo trabalho “santo”.
Veremos
que isso resulta em uma das duas grandes doenças que temos em
relação ao trabalho: Idolatria ou indolência.