quinta-feira, fevereiro 27, 2020

Evangelho no trabalho I


Este foi um estudo feito na igreja Baptista da Horta sobre Teologia do trabalho. O que vou tentar fazer é editar o texto para que possa ser toleravelmente lido e, ocasionalmente, Hei-de ir publicando capítulo a capítulo.
A Bibliografia usada é pouca. Para além da Bíblia, resume-se a dois outros livros: “Como integrar fé e trabalho”, Tim Keller e “O Evangelho no trabalho” Greg Gilbert e Sebastien Traeger”.
Este não é um documento académico, por isso, não tenho preocupação de respeitar qualquer tipo de regra para esse tipo de trabalho. No entanto, por uma questão de seriedade, tentarei mencionar sempre que cito as fontes das quais eu o faço.
A razão para ter feito este estudo foi pastoral. Percebi que muitos dos nossos irmãos sinceros e verdadeiramente comprometidos com o Senhor lutavam com este tema. Muitos não sabiam como agir num meio laboral repleto de pessoas que não conhecem o Senhor.
Será que devemos partir, ativamente para falar do Evangelho, denunciar as injustiças? Será que devemos ser “ultra espirituais” e levar a Bíblia para o trabalho, ou oferecer folhetos todos os dias aos nossos colegas? Será que este trabalho é algo em que deva investir? Será que trabalhar com descrentes, a não ser para os salvar, tem alguma utilidade ou é algum tipo de ministério? Será que trabalhar “na igreja” é superior a trabalhar no meu emprego?
Estas eram algumas das questões que ouvi e que tentei responder. Para muitos, o trabalho é um autentico sacrifício. É difícil ser-se uma testemunha de Cristo num ambiente em que a maioria odeia a Cristo.
No entanto, creio que, mesmo não tendo conseguido responder a todas as questões, este estudo serviu para cultivarmos uma visão teologicamente mais sã em relação ao trabalho, e consequentemente, termos um relacionamento com a nossa semana, diferente.
Sessão 1
O valor intrínseco do trabalho
Estaremos a estudar, nestas quatro semanas, a mente de Deus em relação ao trabalho. O que é que Deus pensa, mas também como é que nós devemos pensar em relação ao trabalho que temos.
Todos nós sabemos que existem trabalhos mais agradáveis do que outros. Existem trabalho de sonho. Não só pela descrição das funções que englobam esse trabalho, mas porque em muitos casos, conseguimos trabalhar na carreira que sempre sonhámos. Isso é privilégio nos nossos dias.
No entanto, nem todos temos a carreira com que sonhámos, nem todos fazemos o que gostaríamos de fazer e em muitos casos o trabalho, por causa disso, é visto como apenas uma forma de conseguir algum sustento. Um mal menor, a “nossa cruz”.
Este estudo não tem a finalidade de eliminar as dificuldades que temos no trabalho. Há dificuldades inerentes ao que fazemos que nunca mudarão. Há relacionamentos com pessoas que nunca ficarão sanados, porque a cura não depende de nós. No entanto, creio que se mudarmos a nossa mente, pelo menos poderemos lidar com essas dificuldades de forma diferente.
O segredo está em percebermos de que forma Deus pensa em relação ao trabalho. Depois de percebermos o propósito de Deus para o trabalho, os nossos colegas vão continuar a ser difíceis, as tarefas enfadonhas, e os problemas continuarão iguais, mas a nossa visão mudará. Afinal de contas, só podemos mudar o que pertence à nossa vida, e mesmo em relação a isso, só a Graça de Deus nos pode valer.
O que nos propomos, então, é que depois deste estudo possamos ter uma nova forma de olhar para o nosso trabalho. A transformação tem de acontecer em nós, não nas circunstâncias.
O trabalho não é castigo da queda
Génesis 2
É sempre importante definir alguns termos para que possamos caminhar no mesmo sentido quando falamos das coisas. Assim quando disser algo, todos vão perceber, pelo menos, aproximadamente, o que estou a tentar dizer.
O que significa ministério?
Ministério é uma palavra que vem do latim, e que significa servir. É certo que hoje quando ouvimos essa palavra, pensamos no governo, com os seus ministros. A nossa mente corre logo para uma compreensão nobre da palavra. Aqui uso nobre significando algo elevado, importante que não serve os outros, mas é servido.
Falamos também, no contexto religioso dos “ministros da Palavra”. Que em muitos casos são autenticas “super-estrelas”, com a sua agenda repleta de palestras, recebendo “cashiers” elevados e com direitos de luxo onde quer que vão.
O significado de ministro é o oposto destes dois exemplos. Ministro significa servo, mais especificamente, escravo.
Quando falamos em ministério estamos a falar de serviço, qualquer tipo de serviço, não só o pastoral. Se quisermos destacar o trabalho pastoral diremos “ministério pastoral”.
Será que podemos fazer uma diferenciação entre trabalho cristão e trabalho secular?
A tese que vou tentar demonstrar aqui é que não. Eu creio que Cristo vem salvar a vida completa do homem. Creio que a conversão não é apenas uma alteração de horário de fim-de-semana, nem uma mudança de comportamento exterioro, é uma mudança de coração.
Ou seja, o cristão vive completamente para a glória de Deus. Todos os dias, a toda a hora em todo o trabalho. Evidentemente que ninguém consegue viver assim, porque ainda lutamos com o nosso pecado e a nossa natureza, mas o alvo é esse e a graça de Deus trabalha em nós para esse fim.
Isto quer dizer que sirvo a Deus quer seja sapateiro, médico, professor, domestico ou pastor.
Não estou a querer dizer que não hajam atividades mais importantes do que outras ou mais centrais, como por exemplo pregar a Palavra de Deus, ou dar testemunho do Evangelho. Estou a dizer que tudo o que o cristão faz é serviço a Deus e deve ser feito para a Sua glória.
Que esferas têm?
Finalmente, é importante esclarecer que, apesar de toda a obra que fazemos ser serviço a Deus, a esfera da vida eclesiástica é central e influenciadora da esfera do trabalho secular. Ou seja, a igreja é o instrumento princpal que Deus usa para edificar os seus filhos ao crescimento espiritual para que O possam servir nas outras esferas de trabalho e que estão envolvidos.
No entanto, vou afirmar mutas vezes que o nosso pecado é em desvalorizar a importância do trabalho diário como não sendo “santo” e uma ênfase no ativismo eclesiástico como sendo trabalho “santo”.
Veremos que isso resulta em uma das duas grandes doenças que temos em relação ao trabalho: Idolatria ou indolência.