quarta-feira, junho 13, 2012

Não há cinzento

"Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento. Porquanto não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus."
Romanos 10: 2-3

O nosso zelo não é suficiente. Pela simples razão que o nosso esforço não é o único ingrediente que agrada ao Senhor. Podemos ser esforçados, cumpridores (pelo menos do sistema religioso e legal que a certa altura criámos na nossa mente), modelares (pelo menos aos olhos dos outros), e mesmo assim, nada disso ser suficiente para agradar ao Senhor. Antes pelo contrário, o nosso esforço pode ser, exactamente o que nos distancia de Deus e o que O ofende grandemente.
Isto não vai lá apenas com suor humano...
O apóstolo Paulo fala de falta de sabedoria no uso do zelo. É néscio aquele que tenta conhecer Deus caminhando apenas o trilho da sua própria excelência e esforço. Não só é néscio, mas, digo-o eu não o Senhor (já que falo de Paulo, faço-o um pouco à forma de Paulo), é um grande gabarolas, por pensar que dele próprio (a saber: do seu esforço, da sua coerência, do seu cumprimento, da sua história, etc.)  poderá vir algum resultado de tão elevado valor como o de conhecer o Senhor.

Juan de Valdés em "The Benefit of Christ" usa uma expressão clarificadora para falar do versículo 3 deste capítulo 10 de Romanos.
"Desconfia da tua própria justiça..."
Esta simples frase é clarificadora porque, nem toda a justiça é boa. Até diria que a justiça que por vezes pesamos ser neutra, ou seja, a nossa justiça, quando respondemos, face a algumas escolhas nossas, "não há mal nenhum nisto ou naquilo...". O que, de facto, estamos a dizer é que, no fundo, o que fizemos, não é necessariamente bom, no sentido em que, claramente, seja uma escolha motivada pelo Evangelho em nós. Não é uma escolha contra cultura, porque Deus assim o deseja. Percebemos que a escolha que tivemos foi uma escolha pessoal, não foi uma escolha divina.
Dizemos que "não há nada de mal", porque pensamos (ou se calhar esta é apenas uma desculpa para, na nossa mente, justificar o nosso secularismo) que os princípios que nos levaram a tal escolha são neutros.
A nossa justiça não é neutra. Confiar na nossa justiça é rejeitar a justiça de Deus.
Não digo isto apenas num prisma moral em que avaliamos certa acção, mas digo-o sobretudo no nível com que comecei este texto. A nossa justiça, na nossa busca por Deus é uma ofensa à justiça de Deus. Se valorizamos uma, desprezamos a outra.
Por isso, Deus não espera, nem quer que vivamos a nossa vida, ainda que coerentemente, numa base em que a nossa opinião é que reina.
A nossa opinião não é chamada para a busca de Deus.
O Zelo não é suficiente, nem tão pouco a nossa justiça.

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