sexta-feira, junho 22, 2012

Ídolos religiosos

Há algum tempo a trás, o meu amigo Tiago, qual arauto que, fielmente, anuncia as boas novas, publicitou (para não usar a palavra anunciar, que fica feio e mal escrito) a tradução para o português de um livro de Timothy Keller, "Falsos deuses", no original, "Counterfeit gods.
Quando soube da feliz notícia, e soube-a pelo meu amigo, já tinha encomendado o livro, juntamente com outros três, do mesmo autor, mas na sua língua original.
De qualquer forma, junto a minha voz à dele, alegrando-me com o facto de, os Católicos terem decidido traduzir um livro de um escritor Presbiteriano e Calvinista. 
Acabei de o ler e foi bem investido o dinheiro.

Tim Keller diz, não literalmente no livro em causa, que o que nos afasta de Deus é, sobretudo, o que pensamos que fazemos mesmo bem.
Neste livro, falando sobre falsos deuses, ele diz que o nossos falsos deuses são coisas boas, que adulterámos, buscando nelas o que deveríamos buscar apenas em Deus. E isso, segundo ele, é idolatria.

Podemos encontrar idolatria em todos os lugares da nossa vida, até na religião, até na nossa pseudo-busca por Deus.

Deixo-vos algumas citações:

"Idolatry functions widely inside religious communities when doctrinal truth is elevated to the position of a false god."... "The sign that you have slipped into this form of self-justifiction is that you become what the book of Proverbs calls a scoffer. Scoffers always show contempt and disdain for opponents rather than graciousness."

"Another form of idolatry... turns spiritual gifts and ministry success into a counterfeit god."... Spiritual gifts (talent, hability, performance, growth) are often mistaken for what the Bible calls spiritual fruit."

"Another kind of religious idolatry has to do with moral living itself."... "Because we have lived virtuous lives, we feel that God (and other people we meet) owe us respect and support."


Sigo para ler o segundo dos quatro livros que adquiri.  

terça-feira, junho 19, 2012

... é para quem não se preocupa com isso.

"... quem é o maior no Reino dos céus?"... "...aquele que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus."
Mateus 18: 1, 4

Creio que a ideia geral que quero transmitir é bastante óbvia tendo em conta os textos Bíblicos e o título que dei ao post.
Mesmo assim, quero escrever. É para isso que isto serve...

No seu livro "Think", Pipper observa que, Jesus não está a dizer, aqui, que as crianças são os exemplos maiores de fé que todos nós deveríamos seguir. As crianças são mais falíveis do que os adultos. São, para além de muitas outras coisas, naturalmente egoístas, se não forem ensinadas a serem o contrário e são (como dá a entender a sua denominação) infantis. O próprio Jesus não era uma criança. Seria, portanto, ridículo pensar que as crianças é deveriam liderar a fé. Não é esta a intenção do Senhor ao trazer para a discussão o exemplo das crianças.
Por outro lado, as crianças são exemplos impecáveis de humildade.
Porque será? É fácil perceber que, alguém que ainda está a aprender tudo, que depende completamente de outros para ter qualquer coisa, alguém que ainda nunca foi independente (esta é a única forma de vida que conhece), e a quem os outros, com muita alegria, ajudam, esse alguém seja tendencialmente humilde.
É que, no fundo, toda a sua vida é claramente dependente dos pais, familiares, professores, de toda a gente.
Aqui, a palavra "claramente" é importante. Para a criança, a dependência em terceiros é perfeitamente assumida, e assumida também a sua inevitabilidade. A assunção de dependência é de tal forma que a criança, numa deturpação desta visão, pensa que os outros têm a obrigação de os servir. Juntando a isto, o facto de ela nunca ter sido independente (facto, que em grande parte dos exemplos, faz com que apesar de podermos ser dependentes de alguém, a certa altura da vida, não ficamos humildes de repente), resulta em uma vida humilde na sua melhor condição.

A humildade de que Jesus fala aqui (sendo a criança o seu paradigma), não é a humildade do "coitadinho" que não pode fazer nada, que precisa de todos e que todos têm pena dele. Não, a humildade aqui é um misto de descanso confiante no pai, porque sabe que as suas necessidades serão preenchidas, com uma despreocupação inocente do que não é do seu respeito.
A criança não se preocupa com a comida, com as notas que recebe no jardim de infância, com a roupa que vai vestir, com o tempo que vai fazer, etc.
A criança, aqui, é o elemento, aparentemente, mais fraco da equação. é quem se escandaliza, mas também é quem, como as ovelhas, nem sempre sabe bem para onde ir.
O coração humilde percebe que é pobre (não que que tem de se tornar pobre... pobres já somos todos, e no entanto, a boa notícia, nesta pobreza, é que somos aceites por Deus), fraco e, sendo assim, não tenta fazer nenhum tipo de "espectáculo para provar, erradamente, o quão bom pensa que é. 

Segundo Jesus, o maior no Reino dos Céus é o coração da criança.
O coração que não faz a pergunta que os discípulos fizeram inicialmente.
 
Não sei se também fazem a mesma leitura que eu, mas vejo aqui uma forte resistência a tudo o que é auto-promoção, desejo de ser conhecido, desejo de aplausos, demonstrações (como se fosse arte circense) de teologia, profunda, às pessoas com quem falo, para impressionar.
O maior no reino dos céus é o que pede o "Pão de cada dia...", é o que não se preocupa com a sua reputação e perdoa sem lhe ser pedido perdão, é o que descansa e obedece ao Senhor até nas coisas que ele sabe que podia alterar, mas principalmente nas que não lhe dizem respeito.

A Glória no Reino dos Céus, neste sentido, é para quem não se olha muito ao espelho, nem quer saber como é que os outros olham para ele.

quarta-feira, junho 13, 2012

Não há cinzento

"Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento. Porquanto não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus."
Romanos 10: 2-3

O nosso zelo não é suficiente. Pela simples razão que o nosso esforço não é o único ingrediente que agrada ao Senhor. Podemos ser esforçados, cumpridores (pelo menos do sistema religioso e legal que a certa altura criámos na nossa mente), modelares (pelo menos aos olhos dos outros), e mesmo assim, nada disso ser suficiente para agradar ao Senhor. Antes pelo contrário, o nosso esforço pode ser, exactamente o que nos distancia de Deus e o que O ofende grandemente.
Isto não vai lá apenas com suor humano...
O apóstolo Paulo fala de falta de sabedoria no uso do zelo. É néscio aquele que tenta conhecer Deus caminhando apenas o trilho da sua própria excelência e esforço. Não só é néscio, mas, digo-o eu não o Senhor (já que falo de Paulo, faço-o um pouco à forma de Paulo), é um grande gabarolas, por pensar que dele próprio (a saber: do seu esforço, da sua coerência, do seu cumprimento, da sua história, etc.)  poderá vir algum resultado de tão elevado valor como o de conhecer o Senhor.

Juan de Valdés em "The Benefit of Christ" usa uma expressão clarificadora para falar do versículo 3 deste capítulo 10 de Romanos.
"Desconfia da tua própria justiça..."
Esta simples frase é clarificadora porque, nem toda a justiça é boa. Até diria que a justiça que por vezes pesamos ser neutra, ou seja, a nossa justiça, quando respondemos, face a algumas escolhas nossas, "não há mal nenhum nisto ou naquilo...". O que, de facto, estamos a dizer é que, no fundo, o que fizemos, não é necessariamente bom, no sentido em que, claramente, seja uma escolha motivada pelo Evangelho em nós. Não é uma escolha contra cultura, porque Deus assim o deseja. Percebemos que a escolha que tivemos foi uma escolha pessoal, não foi uma escolha divina.
Dizemos que "não há nada de mal", porque pensamos (ou se calhar esta é apenas uma desculpa para, na nossa mente, justificar o nosso secularismo) que os princípios que nos levaram a tal escolha são neutros.
A nossa justiça não é neutra. Confiar na nossa justiça é rejeitar a justiça de Deus.
Não digo isto apenas num prisma moral em que avaliamos certa acção, mas digo-o sobretudo no nível com que comecei este texto. A nossa justiça, na nossa busca por Deus é uma ofensa à justiça de Deus. Se valorizamos uma, desprezamos a outra.
Por isso, Deus não espera, nem quer que vivamos a nossa vida, ainda que coerentemente, numa base em que a nossa opinião é que reina.
A nossa opinião não é chamada para a busca de Deus.
O Zelo não é suficiente, nem tão pouco a nossa justiça.

quarta-feira, junho 06, 2012

Fogo estranho


No primeiro versículo do décimo capítulo de Levítico o povo Judeu começa a sacrificar ao Senhor como acto de adoração. O sacrifício era de animais, e apontava para a vinda do Messias (Jesus Cristo) que seria o cordeiro perfeito para remissão dos pecados do homem. Começou mal.
Geralmente a inexperiência leva-nos a erros de palmatória. Não foi este o caso. O erro de palmatória é aquele que é feito na ignorância, ou na inocência, por falta de experiência. Geralmente não se atribui uma má índole ao erro de palmatória, antes, tem-se pena do infortúnio que levou a tal desastre.
Toda a instrução, pormenorizada (tão pormenorizada que, para o leitor menos interessado, pode provocar alguma sonolência), do Senhor parece que não produziu efeito no coração de dois dos filhos de Arão.
Em Êxodo 30: 9 lemos acerca de incenso estranho que era proibido. O Senhor não gastou muito tempo no que não devia ser feito.
Falou, sim, com gravidade acerca da forma como era próprio o culto. Nisso, Ele foi claro, nisso, gastou muito tempo. Um ouvinte/leitor atento e consagrado percebe, claramente, que, pela minúcia com que o Senhor ensina o povo a adorar, está perante um Deus Rigoroso, Zeloso, que é Senhor, que não se contenta com qualquer coisa, que exige obediência, que é Santo.
Tendo esse conceito bem presente, porque razão haveríamos nós de aligeirar a adoração perante Ele?
O Filhos de Arão, a saber, Nadabe e Abiú, decidiram trazer fogo que não era fogo do Senhor.
Que fogo é este fogo do Senhor?
O texto diz que quando Arão entregou o primeiro sacrifício ao Senhor, veio fogo de Deus que consumiu o holocausto. Não sabemos de onde veio o fogo. Se veio dos céus, se veio da terra, se era uma forma de falar do fogo que estava já aceso ali. Lemos, sim, que a presença de Deus fez-se notar e o fogo do Senhor queimou toda a oferta.
Este era o fogo do Senhor. Outro fogo qualquer era fogo estranho. Percebe-se que outro fogo seria fogo aceso noutro lugar, fogo iniciado de outra forma qualquer, fogo que vem outro sítio. Talvez tivesse a mesma cor, o mesmo calor, aparentasse uma mesma coisa, mas era fogo estranho, porque não era o fogo que o Senhor tinha determinado.
Foi fogo estranho que os jovens sacerdotes trouxeram para adorar ao Senhor.
O texto diz que estes mancebos, ao usarem o seu fogo, foram mortos pelo Senhor.

Surge-me uma questão na mente, será que, sempre que se ofereceu holocaustos ao Senhor, foi enviado fogo especial de cima? Creio que não. Também não creio que sempre que, na vida do povo Judeu, alguém serviu mal ao Senhor tenha morrido. Tal como hoje se alguém mente acerca do seu dízimo ou do seu testemunho, não cai morto como aconteceu com Ananias e Safira.
Há algo de extremamente sério quando servimos ao Senhor.
A forma como o Senhor tem feito notar essa seriedade é no seu início. Como se costuma dizer: “de pequenino se torce o pepino.”, Deus também no início faz-nos ver o que é que está em jogo.
O fogo do Senhor foi miraculosamente lançado pelo Senhor algumas vezes apenas, a morte, por serviço inapropriado ao Senhor, acontece apenas algumas vezes, tal como, cair sem vida, porque se mente na quantia que se oferece ao Senhor, não é prática usual nas nossas igrejas.

Será o Deus de hoje mais mole do que o Deus de antigamente? Será que dobrámos Deus? Será que Deus também se molda pelos tempos ocidentais com todo o seu humanismo?
Claro que não.
Os primeiros sofreram para ensino do povo de Deus. Fomos avisados. Os de hoje sofrerão as consequências do seu pouco zelo, das formas como Deus quiser, mas, principalmente, no fim dos tempos perante o Senhor percebendo que a falta de zelo é sinal de que, no fundo, nunca adorámos a Deus.

O que está em jogo na adoração, ou na consagração dos nossos bens é muito mais do que a nossa vida física.
Deus não amoleceu. O Seu Zelo é sempre perfeito, e isso vamos perceber quando ficarmos perante Ele, um dia.