Estou a caminho da casa dele e já oiço o som da música e da conversa.
Chego lá, não conheço ninguém, apenas o aniversariante. Todos falam com todos, menos comigo, creio que seja por não me conhecerem.
De repente, encho-me de coragem e pergunto a um estranho o seu nome, o que faz, as especificidades do que faz… ele, responde-me e rapidamente, esgota-se o tema de conversa.
Naturalmente que ele, mal encontra uma oportunidade, vai falar com outra pessoa, visto que após esta “prosa mútua”, ficámos uns bons cinco minutos a olhar para as paredes e para as conversas que os outros tinham.
Voltei a reparar que todos continuavam a falar com todos, menos comigo. Seria mesmo apenas da minha pouca fama no círculo? Será que cheirava mal? Seria uma partida, ou então já sabiam todos, que não era grande comunicador?
O que me salvaria deste estado?
“E se entrasse um amigo meu para falar comigo? Ou se eu recebesse um telefonema que justificasse a minha saída? Ou mesmo se perdesse toda a vergonha e entrasse tipo “penetra” nas conversas dos outros, fazendo-me muito interessado e contente.” Cogitava eu com o meu coração…
Nada disso, a minha solução é muito mais ao meu estilo, ao estilo de uma pessoa quieta, aquela pessoa que ninguém nota pela sua presença numa sala, aquela pessoa que é sempre a última a ser escolhida para fazer parte de uma equipa porque ninguém sabe se joga bem.
“É a primeira vez que cá estás? Não, venho todas as semanas, mas não costumo jogar… adeus.” É a conversa típica minutos antes de se começar a jogar.
Já foi uma sorte ter me sentado no sofá. Quase sempre fico de pé e mais tarde ou mais cedo sem saber bem o que fazer com os braços…
Lá, nesse sofá reparo que bem à minha frente há uma televisão; poderá ser esta a minha solução?
Ligo-a, e, como de costume, faço uma passagem por todos os canais disponíveis, mas o aniversariante tem só serviço público.
Por mais ridículo que seja o programa que está a dar, ele é a minha bóia de salvação. Concedo-lhe toda a minha concentração, assim, não sinto necessidade de outra pessoa. A festa não está a ser uma festa, o que faço, fazia-o em casa, mas confesso que seria bem homenzinho para passar ali a noite toda, refugiado no ecrã, na minha conversa com a caixinha.
As outras pessoas, reparo, não sentem a mínima necessidade do meu refúgio.
Por vezes, quando a festa acaba, a sua aparente segurança passa, tal como a minha segurança era temporária e enganosa. Outras vezes não, outras vezes também me sinto perfeitamente ajustado em festas.
Mas pergunto-me, será possível termos uma segurança que vá para além destas circunstâncias?
1 comentário:
Olha... fiquei tão pensativo e absorto que nem sei bem o que dizer, mas a apetecer-me dizer algo...
Uma coisa te garanto, se vieres a uma festa no Norte em minha casa, garanto-te que se tu quiseres, falo contigo pelo menos uma hora…
Esse grupinho, não te merece! ;)
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